À espera de Sofie
Seu coração agoniado de esperar o enlouquecia. Ele era o escutador de passos, o andar estava por vim. Seus olhos cegos de ouvir, seus ouvidos a enxergar. Era craque em distinguir seus parentes apenas pelo andar, herança de seus antepassados, possuidores de uma audição aguçada, culpem o ato de caçar, a sobrevivência. Pés a se arrastar identifica no mesmo instante sua gigantesca mãe, obesa de preguiça, magra de amar. Passos de marcha caracterizam a chegada de seu irmão, bondoso assim como era, contrário ao seu andar. Por fim, marcado pelo correr dos pés, assim como um fugitivo se afasta de sua prisão, sem saber que sua alma o prenderá eternamente, sua irmã de criação, tão meiga quanto seus passos.
Um ruído o fez voltar a tona. Era o momento. Nos primórdios daquele instante sua alma se encheu de contentamento-era ela-pensou com o coração. Passos flutuantes e secos, um fechar de portas. Uma escada, um infinito. Não podia mais abusar de seus ouvidos, queria desfrutar da visão. Avistou sua bela amada. Valeu a pena esperar.
/LÊ
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